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Pão, circo e o mito da caverna: retrato da atual sociedade brasileira


style="width: 100%;" data-filename="retriever">Na atualidade, com a sociedade em rede através da internet, a dinamicidade das informações alcança velocidade jamais esperada desde quando esse movimento de globalização se iniciou. De toda sorte são os conteúdos disponibilizados e das mais diversas áreas do conhecimento, como educação, economia, política, curiosidades, etc. Algumas culturas, em função das suas características, consomem mais ou menos determinado tipo de informação, o que também é perceptível através de variações dentro de um povo ou de uma sociedade específica. Até aí, aparentemente, tudo bem.

Acontece, ao que me parece, que de certa forma, ocorre invariavelmente algum tipo de alienação de parte da população. Não sei se por desinteresse aos assuntos realmente relevantes, ou talvez pela falta do sentimento de pertencimento coletivo em uma Era extremamente individualista. Ou falta de empatia para com o próximo diante dos acontecimentos graves que ocorrem nas esferas global, nacionais, regionais e locais, ou até mesmo pela falta de acesso diante da falácia da "inclusão digital" em países como o Brasil, por exemplo. E é justamente por falar em Brasil que me gerou esse desconforto ao ponto de escrever neste artigo sobre a minha percepção, talvez torta, do que me parece estar acontecendo no nosso país. Uma releitura da velha, histórica e desoladora política/movimento de "pão e circo", associada ao mito da caverna de Platão.

Essa política havia sido criada como uma medida de manipulação de massas, onde a aristocracia incentivava a plebe de certa forma a ficar desinteressada em política e dar atenção somente para prazeres como a comida, através do pão, e o divertimento, retratado pelo circo. Esse tipo de anfiteatro foi construído em Roma para atender a ideologia da "política de pão e circo", criada e mantida pelos imperadores romanos que, para manter a massa mais pobre - os plebeus - acomodada, sem revoltas, concordando com os governos, passaram a distribuir trigo e promover espetáculos públicos de corridas.

Não me parece que seja muito diferente o que acontece na atualidade, principalmente em nosso país. O interesse do nosso povo estrondosamente maior, por exemplo, pelo reality Big Brother Brasil, diante de uma pandemia que já tirou a vida de mais de 240 mil cidadãos só brasileiros, de uma economia em queda vertiginosa, dos escândalos de corrupção e falta de gestão especialmente do governo federal, chega a ser desesperador para qualquer pessoa que tenha a mínima consciência de classe e noção da realidade que interessa.

O que ainda me faz lembrar o Mito da Caverna de Platão, que pretende exemplificar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão por meio da luz da verdade. Pessoas acorrentadas são forçadas a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder ver uns aos outros ou a si próprios. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira, por detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam "homens e outras coisas viventes". Os prisioneiros não podem ver o que se passa atrás deles e veem apenas as sombras que são projetadas na parede em frente a eles. Logo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

Dessa forma, está evidente que a sociedade brasileira, particularmente, encontra-se atualmente em um estágio de alienação, apatia e completa falta de senso de realidade. Vivendo de forma virtual, sem ações humanas concretas, contemplando a vida (ou a deterioração dela) apenas pelo reflexo do que é transmitido em telas e contentando-se com migalhas e entretenimento. Seja na população com baixa instrução, seja nos círculos sociais de pessoas privilegiadas que particularmente tenho a possibilidade de transitar. O estado de negação dos fatos é surreal. A história tristemente se repete. O inacreditável é que o ano é de 2021.

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